DINHEIRO E NEUROCIÊNCIA SOCIAL
Pense no objeto dinheiro.
Pensou?
O dinheiro é feito de um material muito específico, o papel dos nossos reais é construído por duas camadas: a primeira é uma madeira especial e a outra é de algodão. Mas, por que eu estou falando sobre isso? Porque o dinheiro é apenas um tipo diferente de papel, mas não deixa de ser um papel.
Você vai à venda e troca essas folhas com números impressos por comida, roupas… Isso acontece porque nós, seres humanos, damos valor a esse objeto que, em sua essência material, não possui tanta utilidade.
A atribuição de valor ao dinheiro não é apenas resultado de sua utilidade característica, ela também é moldada pelas interações sociais, normas culturais e percepções individuais. É a partir disso que garantimos nossa sobrevivência em sociedade.
Perceba o quanto esse sistema é intrínseco à nossa vida, tanto que não paramos muito para pensar sobre isso.
INTELIGÊNCIA SOCIAL E TEORIA DA MENTE
Esse acordo aconteceu porque possuímos uma inteligência social, há regiões no cérebro responsáveis por ela. Assim, podemos manipular e/ou ser manipuláveis, para o bem ou para o mal. Isso ocorre pelo motivo de termos a capacidade de nos identificarmos como seres humanos, há uma maquinaria responsável pela identificação de rostos.
Nós, além dessa identificação, também atribuímos valores às faces que vemos, de acordo com a morfologia de cada uma delas. O formato do rosto, das sobrancelhas, dos olhos, da boca, a partir desses traços, fazemos uma interpretação de como essa pessoa é ou de como ela está se sentindo.
Ou seja, julgamos o outro “pela capa” a partir da construção do rosto dela. Às vezes esse julgamento é equivocado, pois, aquela pessoa que tem uma “cara de mau” pode ser super tranquila, já a pessoa que tem uma cara de “anjo” pode ser “demoníaca”.
A partir de traços e de expressões, podemos fazer inferências sobre o estado mental dos nossos semelhantes, sobre o que eles pensam ou desejam.
Imagine que você brigou com alguém ou teve uma pequena discussão, a pessoa com quem você brigou pode expressar a raiva dela através do rosto, franzindo as sobrancelhas, murchando a boca. Por meio da soma desses traços, você poderá pensar: “Pô, acho que Fulano está com raiva de mim”.
Na neurociência social, isso é chamado de ‘Teoria da Mente’. Eslen Delanogare* diz que esse é um termo ruim para um conceito muito interessante. Ele explica mais sobre isso na aula 085 que está lá no Reservatório de Dopamina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para concluir, a neurociência social tenta entender a essência do ser humano como um ser social e cognitivo. Identificar e atribuir valor a rostos e a objetos são mecanismos fundamentais que enriquecem nossa compreensão sobre o mundo e nos permitem navegar pela complexidade das relações humanas. Essas funcionalidades não apenas contribuem para nossa sobrevivência como espécie, mas também formam a base de nossa coexistência em sociedade. Afinal de contas, nós somos animais sociais.
*Eslen Delanogare é neurocientista, psicólogo, palestrante e empresário. Fundador do Reservatório de Dopamina, a maior comunidade sobre desenvolvimento humano e saúde mental do Brasil. Doutorando em Neurociências, pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), pesquisa sobre possíveis efeitos protetores de metformina sobre as alterações metabólicas, comportamentais e neuroquímicas induzidas por dieta rica em gordura em camundongos.