Vamos falar sobre Carlos, uma personagem fictícia.
Carlos acabou de desligar a TV e foi se preparar para dormir. Ao deitar na cama, um pensamento invade sua mente e começa a perturbá-lo: “Acho que deixei a TV ligada”.
Essa ideia começa a gerar uma preocupação, uma ansiedade, então Carlos levanta, vai até a sala e verifica a situação. A TV está desligada. Ele retorna à cama e à situação inicial, tudo se repete umas cinco vezes O pensamento faz com que haja uma deformação em suas memórias, ele esquece o fato de ter desligado a televisão. E volta a realizar a mesma ação repetidamente.
Conclusão: ele não consegue dormir.
Por ter esses pensamentos intrusivos, Carlos se sente ansioso e para aliviar isso ele realiza repetidamente o ato compulsivo de ir à sala para verificar a TV. Você sabe qual o problema de Carlos? Provavelmente ele tem o transtorno obsessivo-compulsivo.
Para além do mais conhecido incômodo ao ver algo sem simetria, o transtorno obsessivo-compulsivo é um problema sério e pode chegar a níveis de a pessoa não sair mais de casa por medo de algo ruim acontecer caso não siga uma ordem de passos a casos mais extremos como tentativa de suicídio.
O TOC é caracterizado por pensamentos em excesso que levam a comportamentos repetitivos. Ou seja, o indivíduo com esse transtorno, por causa de pensamentos intrusivos e irracionais, realiza atos compulsivos, por isso o nome: transtorno obsessivo-compulsivo.
Apenas 3% da população tem essa morbidade, mas a maioria das pessoas apresentam alguns traços dessa doença. Agora você deve estar se perguntando…
“O que são traços?”
Dentro de uma régua imaginária dos transtornos mentais, há as pessoas que têm de fato a doença e outras que têm apenas traços, isto é, apresentam alguns sintomas da doença, mas não ao ponto de prejudicar a vida delas.
Conheça as manifestações desse transtorno:
- Contaminação: essa é uma das mais conhecidas. Por acreditar que irá se contaminar por meio de sujeiras, a pessoa manifesta o comportamento de se limpar a todo momento, com sabão e água ou com álcool. Essa compulsão pode atrapalhar o andamento da vida desse sujeito ao ponto de ele se recusar a sair de casa por medo de ser infectado;
- Simetria ou ordem: esse deve ser um dos traços de TOC que mais se manifesta nas pessoas sem diagnóstico. Acontece quando o indivíduo sente muita ansiedade ao ver algo que não segue um padrão, uma ordem. Em alguns casos, a pessoa chega a acreditar que, se tudo não estiver certinho simetricamente, algo de ruim poderá acontecer com ela;
- Medo de cometer algum ato violento: sabe quando você está em algum lugar alto e vem aquele pensamento de se jogar? Algumas pessoas têm o medo ilógico de ter cometido algum crime contra alguém, e, às vezes, esses pensamentos fazem o sujeito esquecer e ir checar se realizou ou não aquela ação;
- Acumulador: não deve ser confundido com uma pessoa que coleciona algo. O colecionador tem o objetivo de preservar alguns artefatos de um modo não disfuncional. Já o acumulador compulsivo chega a níveis extremos de juntar tralhas sem um valor de fato, ele pode chegar ao ponto de guardar até comida. Há casos em que a pessoa junta tanto cacareco que a própria casa se torna um lugar inabitável.
E como é tratado o transtorno obsessivo-compulsivo?
- O primeiro manejo conhecido é a terapia de exposição e prevenção de resposta, uma abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental. E o que é isso? É expor o paciente à situação que causa a ansiedade e o desconforto, isso fará com que o ele tente realizar o comportamento disfuncional e, a partir disso, o terapeuta vai ensinar como inibir a realização desse ato;
- Já o segundo manejo é medicamentoso, realizado com os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, os medicamentos serotoninérgicos.
Este artigo não tem o objetivo de ser uma intervenção, ele é informativo. Caso você tenha algum desses comportamentos disfuncionais, procure um profissional.
Quer saber mais sobre a neurobiologia do TOC?
Lá no Reservatório de Dopamina temos uma aula mais detalhada com Eslen Delanogare*. Entre agora e tenha acesso a esses e a muitos outros conteúdos.
*Eslen Delanogare é neurocientista, psicólogo, palestrante e empresário. Fundador do Reservatório de Dopamina, a maior comunidade sobre desenvolvimento humano e saúde mental do Brasil. Doutorando em Neurociências, pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), pesquisa sobre possíveis efeitos protetores de metformina sobre as alterações metabólicas, comportamentais e neuroquímicas induzidas por dieta rica em gordura em camundongos.